Sobre Marina Silva - Agenda Assembleiana

Sobre Marina Silva

Seja quem ganhe o pleito deste ano, as eleições presidenciais de 2014 já entrarão para a história por pelo menos dois acontecimentos marcantes: a reviravolta no quadro eleitoral após a morte do governador Eduardo Campos, candidato à Presidência pelo PSB; e o fato de, pela primeira vez na história do Brasil, dois assembleianos concorrerem à Presidência da República: Marina Silva, membro da Assembleia de Deus em L2 Sul (DF), e o pastor Everaldo Dias, da Assembleia de Deus de Madureira.

Ao todo, mais de 110 milhões de brasileiros deverão ir às urnas para eleger o novo presidente do Brasil. Estima-se que os evangélicos representem hoje mais de 25% da população, o que lhes dá um peso muito importante nessa decisão. Logo, é preciso estarmos conscientes na hora de escolhermos o nosso voto, para que possamos eleger alguém que, mesmo não sendo o candidato dos sonhos, seja pelo menos o melhor nome para conduzir o nosso país nos próximos quatro anos.

Antes da morte de Eduardo Campos, eu estava mais tendente a votar em Aécio Neves, não por considerá-lo um candidato perfeito – até porque candidato perfeito não existe –, mas por considerá-lo menos ruim dentre aqueles com chance de ganhar a eleição. E ao destacar “dentre aqueles com chance de ganhar a eleição”, já deixo claro que não votaria no pastor Everaldo, apesar de não ter pessoalmente nada contra ele, nem contra seus posicionamentos e sua candidatura. É verdade que lhe falta certa experiência e que sua guinada pró-liberalismo econômico foi muito recente, o que lhe fez ser chamado de “oportunista”, por mudar o discurso tão radicalmente de poucos meses para cá. Entretanto, vejo com bons olhos essa sua mudança recente em relação a questões políticas e econômicas, já que foi uma mudança para melhor. Antes tarde do que nunca! Tomara que não mude pós-eleição, mas, ao contrário, permaneça assim. Seria interessante ver o pastor Everaldo posteriormente como parlamentar, defendendo essas teses. Não tenho intimidade alguma com ele, mas conheço seu filho, o deputado federal Filipe Pereira, do Rio de Janeiro, com quem já conversei algumas vezes, inclusive sobre a candidatura de seu pai.

Como pastor Everaldo não tinha e não tem chance de ir para um segundo turno, e dentre os que tinham chance o Aécio era o que tinha propostas mais interessantes, estava decidido a votar no ex-governador de Minas Gerais. Até porque Eduardo Campos, ex-governador da minha terra natal, Pernambuco, não conseguia me cativar. É claro que, entre Dilma e Eduardo Campos, eu não pensaria duas vezes: votaria em Eduardo Campos! Mas, entre Eduardo e Aécio, ainda achava o Aécio com melhores propostas para o país.

Só que vem o mês de agosto e com ele a reviravolta: a morte abrupta de Campos e, logo depois, a ascensão de Marina. A ironia das ironias é que Marina tentara meses antes se candidatar à Presidência por um partido próprio, chamado Rede, que não conseguiu sua homologação no TSE porque seus apoiadores não obtiveram a tempo as mais de 500 mil assinaturas válidas necessárias para a criação do partido. Isso fez com que recebesse o convite de Eduardo Campos e se tornasse sua vice. O ex-governador não conseguia passar dos 9% nas pesquisas, provavelmente por não ser muito conhecido ainda pelo eleitor de outras partes do país. Nem mesmo Marina conseguia transferir para ele mais votos, apesar de ela ser presença constante nos primeiros programas televisivos do PSB visando às eleições.

Com a oficialização da candidatura de Marina à Presidência, ficou a dúvida: E agora? Aécio ou Marina? Para alguns amigos meus, a decisão era fácil: “Marina, claro!”. Só que, no meu caso, me preocupava muito o fato de a irmã Marina Silva carregar ainda alguns resquícios ideológicos – o que é bastante compreensível, porque é muito difícil, convenhamos, alguém ter sido criado sob uma visão política de esquerda, ter sua mente doutrinada ideologicamente durante décadas, e depois conseguir se livrar de toda essa bagagem.

Na eleição de 2010, eu era simpático a Marina, mas não conseguia vê-la isoladamente como melhor opção justamente por causa disso. Como escrevi à época, ela e Serra eram as melhores opções. Só fiquei em cima do muro em relação aos dois no primeiro turno, porque me incomodava alguns posicionamentos dela da velha esquerda. Porém, para minha alegria e a de muitos outros irmãos que tinham a mesma preocupação, neste ano, irmã Marina se livrou de muitos desses ranços – não de todos, mas de muitos. Não, ela não abandonou todos aqueles pensamentos de esquerda. Ainda há alguns que permanecem e preocupam. Mas, ela já abriu mão de muita coisa que pesava negativamente. Se tornou mais pragmática, e isso é bom.

Conheço a igreja de Marina, onde já estive pregando algumas vezes, e tenho amigos lá; conhecia pessoalmente seu pastor, já falecido, e conheço o atual, o pastor Daniel, filho do falecido pastor Sóstenes Apolos. Nunca conversei pessoalmente com ela, mas todos de sua igreja, desde a liderança aos membros comuns, sempre falaram bem da irmã Marina, de seu bom testemunho como crente, de sua paixão em estudar teologia para conhecer mais sobre a Palavra de Deus, da sua forma de tratar as pessoas etc. Marina nunca teve vergonha de dizer que é crente e sempre condenou publicamente o preconceito contra evangélicos, além de demonstrar abertamente sua paixão pela Palavra de Deus. Sua conversão foi sincera e seu amor por Jesus, genuíno. Quem não conhece ainda a história de sua conversão, ouça ela mesmo contando AQUI.

No que tange a valores, Marina é contra a legalização do aborto, contra a liberação das drogas, contra a adoção de crianças por homossexuais e contra o “casamento” homossexual, mas a favor da união civil homossexual. Ela também é a favor de que as instituições de ensino tenham liberdade de ensinar o Criacionismo científico juntamente com o Evolucionismo. Aliás, tudo isso ela já afirmava em 2010. Ela ressalta apenas que as atribuições para definição dessas questões são do Congresso Nacional, não dela – e está correta quanto a isso –, mas chegou a sugestionar um plebiscito para tratar desses temas, o que, com certeza, faria com que nenhuma dessas propostas liberalizantes fosse aprovada, uma vez que a maioria da população brasileira é contra todas essas propostas, como todas as pesquisas têm mostrado, inclusive a mais recente sobre esses assuntos (Veja AQUI). O plebiscito para essas questões é uma saída interessante, mas que em 2010 muita gente tomou como “murismo” de Marina. O único problema com os plebiscitos é que eles são caros para os cofres públicos, além, claro, de sempre haver o perigo de se viciar a democracia substituindo o parlamento por plebiscitos. A democracia é representativa, não plebiscitária.

Bem, vejamos agora no que Marina mudou em 2014 e que foi muito positivo.

No que tange à economia, Marina defende agora abertamente a manutenção do tripé econômico do Plano Real, que começou a ser destruído no final do segundo mandato de Lula, com a entrada de Guido Mantega como ministro da Fazenda, e se aprofundou durante o governo Dilma, pelas mãos do mesmo Mantega e a bênção da presidente. Marina defende também a total autonomia do Banco Central, e promete, assim como Aécio e Dilma, forte investimento na infraestrutura, simplificação do sistema tributário e desburocratização dos processos produtivos e comerciais. Se Marina, ao ser eleita, conseguir pelo menos resgatar o tripé econômico do Plano Real, já irá salvar a economia do nosso país do pior. E se ela conseguir cumprir o restante, aí será maravilha.

Esse posicionamento novo de Marina na questão econômica levou seu antes admirador, o teólogo da libertação Leonardo Boff, que a apoiou em 2010, a romper com ela neste ano, apoiando Dilma (veja AQUI). Ótima notícia! E ponto para Marina! Ela, que já elogiou muito a teologia da libertação no passado, faz muito bem em se afastar dos posicionamentos de Boff.

Os petistas a chamam pejorativamente de “fundamentalista”, “fanática”, “criacionista”, “mulher que governa consultando a Bíblia”, “homofóbica” etc, mas não sabem que só a ajudam fazendo isso. Aliás, eles não sabem fazer outra coisa quando estão perdendo, se não fabricar dossiês falsos, denegrir pessoas etc. Nesse caso, ponto para Aécio, que mesmo não sendo nenhum “santo”, ao atacar Marina, só o faz em relação ao seu projeto de governo, denunciando plágios, dizendo que é um “genérico” do programa do PSDB etc. Ele – pelo menos até agora – não apela para questões pessoais, diferentemente dos petistas.

Aliás, daqui para frente Marina tem que se cuidar, porque os petistas não vão se deter só em questões pessoais. Toda a sua correção vai ser colocada à prova pela máquina petista, que vai caçar um fio de cabelo de falha dela para transformar em uma árvore frondosa – se não inventarem eles mesmos tais árvores frondosas, como já fizeram no passado com outros de seus desafetos. No caso da estranhíssima história do avião de Eduardo Campos, Marina ainda tem a desculpa de que não sabia - e nesse caso é bem possível mesmo que ela não sabia - e de que o PSB ainda poderá prestar os dados de aquisição do avião na prestação final de gastos de campanha ao TSE. Veremos o que virá nos próximos ataques, e esperamos que a conduta correta da candidata, como tem parecido até aqui, se confirme mesmo.

Em segundo lugar, sua maior independência. É verdade que o PSB é ligado ao Foro de São Paulo, mas Marina não parece do tipo que se colocará de forma subserviente diante de eventuais interesses equivocados do seu atual partido, muito menos do próprio Foro. Ela está no PSB, mas não tem cara de PSB. A própria imprensa tem ressaltado que há uma certa independência que incomoda gente dentro do seu atual partido. O último exemplo dessa independência foi a mudança que ela mandou fazer no programa de campanha que levou à revolta e saída da campanha do responsável, dentro do PSB, pelas políticas LGBT (Veja AQUI, AQUI e AQUI).

No mais, eu diria que essas críticas de que Marina governará sendo exageradamente purista em suas alianças, se colocando acima dos partidos e levando o Brasil a um estado ingovernável, é puro exagero. Duvido que, após assumir a Presidência, ela não faça as alianças minimamente necessárias para poder governar o país.

E os pontos negativos de Marina?

Eles podem ser resumidos em um único ponto: os tais resquícios do esquerdismo radical de tempos remotos. Só para citar um exemplo: infelizmente, Marina apóia o Decreto 8.243 de Dilma, que atende aos interesses do Foro de São Paulo. Esse decreto, na prática, mina a democracia representativa (Veja um resumo sobre essa questão AQUI). O programa de governo do PSB – que, como já disse, pertence ao Foro de São Paulo – defende também a democracia direta, chamando-a de “democracia intensificada”. Não há dúvidas de que as décadas de doutrinação ideológica fazem com que Marina não perceba que aquilo que ela acha que é um bem é, na verdade, um mal para o país. Ademais, seu marido, até outro dia no PT, também é muito embebido de ideologia esquerdista.

Esse é meu medo em relação à candidatura Marina.

Concluo afirmando que tanto Marina quanto Aécio são, dentro das opções que temos, as melhores, mas aquela que parece mais sólida para tirar o PT do poder é Marina Silva (A candidatura Aécio enfraqueceu), e essa Marina é uma Marina que assusta menos, que mudou para melhor nos últimos quatro anos em questões importantes. Por essas razões, posso dizer que, por agora – ou seja, a não ser que algum fator novo surja no meio do caminho –, meu voto tende a ser para Marina. Ela pode não ser a candidata ideal, mas nenhum é, e é muito melhor que a Dilma.

Pr. Silas Daniel
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