Lição 12 - Os pecados de omissão e opressão - Agenda Assembleiana

Lição 12 - Os pecados de omissão e opressão

 Como destacamos no capítulo 10 deste livro, o apóstolo Tiago chama a atenção de seus leitores, mais especificamente na abertura do capítulo 4, para as consequências trágicas da omissão dos homens mais abastados em cuidar “dos órfãos e das viúvas” (Tg 1.27) assim como dos membros indigentes da sua comunidade (Tg 2.15,16). Tal atitude, frisa o apóstolo, estava levando a mortes desnecessárias entre os mais necessitados, de maneira que Tiago sugere que esses homens ricos que pecavam por omissão, que pecavam por não atenderem aos mais carentes, eram, indiretamente, assassinos (Tg 4.3; 5.6). Sim, porque os interesses egoístas dessas pessoas — e que ficará ainda mais evidenciado no caso da diminuição do salário devido aos trabalhadores pobres (Tg 5.4) — estavam levando necessitados à morte. Ao lutarem apenas pelos seus próprios deleites, eles estavam, na prática, mesmo que indiretamente, combatendo contra seus irmãos necessitados, porque sua omissão custava a vida destes. Tratava-se, portanto, de uma omissão criminosa.

Lembremos que a Epístola de Tiago foi escrita, muito provavelmente, durante a grande fome que abateu a Judeia por volta do ano 46 d.C. A data mais provável para a composição da Carta de Tiago é entre 45 e 49 d.C., isto é, exatamente um período que abrange a época dessa grande fome. Logo, quando Tiago viu que a morte de alguns irmãos poderia ser poupada se não fosse a omissão dos mais ricos — ainda mais que os ricos empregadores, motivados apenas por cobiça e egoísmo, estavam em falta no pagamento dos salários dos seus trabalhadores, salário este que, se honrado, supriria minimamente as necessidades destes —, o apóstolo foi tomado de uma ira santa e escreveu as palavras contundentes que abrem o capítulo 5 de sua carta, sobre as quais meditaremos a seguir.

O pecado da omissão
O capítulo 4 da Epístola de Tiago termina com uma frase que bem poderia abrir o capítulo 5, mas o francês Robert D’Eti-énne (1503-1559), responsável pela divisão do Novo Testamento em versículos, não atentou para isso, preferindo colocar a referida frase ao final do texto sobre a falibilidade dos projetos humanos (Tg4.13-16). Diz Tiago ao final desta passagem: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado” (Tg 4.17). Não que essa frase não possa ter alguma relação com o tema da falibilidade dos projetos humanos, mas ele está mais relacionado com o tema que vem a seguir.
Antes, porém, de adentrarmos no tema dos versículos 1 a 6 do capítulo 5, é preciso destacar algumas lições que estão implícitas no enunciado do apóstolo sobre o pecado de omissão.
A primeira é que, diferentemente do que normalmente as pessoas imaginam, os pecados de omissão serão julgados por Deus tanto quanto os demais pecados cometidos. Como afirma Matthew Henry, “aquele que não faz o bem que ele sabe que deve fazer e aquele que faz o mal que ele sabe que não deve fazer serão condenados”.
Em segundo lugar, a partir do contexto desse enunciado do apóstolo Tiago, entendemos que ele está afirmando aqui também que “pecados de omissão podem facilmente se tornar pecados de comissão”. Ou seja, além de ser um mal em si mesmo, o pecado de omitir-se deliberadamente ainda pode ser praticado de forma a colaborar conscientemente para outros males, de maneira que ele é, nesses casos, também um pecado de comissão.

O pecado da opressão
Curiosamente, ao iniciar no capítulo 5 sua contundente condenação aos ricos opressores, Tiago usa as mesmas palavras do versículo 9 do capítulo 4, quando ele estava falando aos seus leitores sobre a necessidade de se separarem do mundo e se submeterem à vontade de Deus, e que isso inclui indispensavelmente uma atitude de arrependimento sincero: “Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza”. Essa atitude é sintetizada na expressão “Humilhai-vos perante o Senhor” (Tg 4.10a). No capítulo 5, ele conclama os ricos opressores a essa mesma atitude, isto é, a essa humilhação diante de Deus, ressaltando que o juízo de Deus é certo se não se arrependerem: “Eia, pois, agora vós ricos, chorai e pranteai por vossas misérias, que sobre vós hão de vir” (Tg 5.1).
A contraposição à humildade é a soberba, que aparece aqui encarnada na vida desses ricos opressores. Como salienta o teólogo Lawrence Richards ao comentar essa passagem da Epístola de Tiago, “aqueles que confiam nas riquezas e menosprezam os direitos dos outros para acumulá-las são a antítese das pessoas humildes que Deus deseja que os crentes se tornem. Estes homens ricos personificam o sistema do mundo, que Tiago afirma ser hostil a Deus. Eles valorizam as coisas materiais, que não têm valor duradouro, e desdenham os seres humanos, que Deus afirma que têm valor supremo. A sua vida na terra, que é uma vida de ‘delícias e deleites’, serve apenas para prepará-los para o ‘dia de matança’ [Tg 5.5], o juízo divino”. Sua vida de prazeres e luxo estava sendo para eles como o período de engorda do gado para logo depois ser abatido (Tg 5.5).
Como afirmamos no capítulo 4, a Bíblia nos ensina que as riquezas em si não são pecado, mas apenas o amor às riquezas, o apegar-se a elas, a avareza, a cobiça, o egoísmo e a soberba. As Escrituras ensinam que o cristão que “possui riquezas e bens não deve julgar-se rico em si, e sim administrador dos bens de Deus (Lc 12.31-48)”, e deve ser “generoso, pronto a ajudar o carente, e rico em boas obras (Ef 4.28; 1 Tm 6.17-19)”. Além do mais, uma vez que Tiago conclama os ricos opressores a prantearem e chorarem, isso significa dizer, à luz do uso dessas mesmas expressões no capítulo 4 (v. 9), que ele “espera que reconheçam sua dependência de Deus e se arrependam de seus pecados”; e “se assim o fizerem, então o ‘abatimento’ (Tg 1.10) provocado por sua ‘miséria’ os levará a se humilharem perante o Senhor, e Ele os exaltará (Tg 4.10; cf. Tg 1.9)”.

A deterioração das riquezas
No capítulo 5, Tiago mais uma vez chama a atenção para a transitoriedade e a deterioração natural das riquezas (Tg 5.2,3). Ele já havia feito essa alusão no capítulo 1, usando como analogia a beleza passageira da flor (w. 10,11).
Um aspecto importante das palavras de Tiago nos versículos 2 e 3 é que, ao afirmar que as riquezas daqueles ricos opressores estavam apodrecidas, com vestes comidas de traça e ouro e prata enferrujados, o apóstolo estava destacando também que os bens daqueles homens haviam perdido o seu propósito. “O fato de as vestes representarem o alimento das traças, o dinheiro guardado se tornar manchado e o ouro e a prata enferrujarem, não sendo utilizados por seus donos quando poderiam ter sido destinados aos pobres, indica que foram afastados da função a qual Deus lhes destinou. Se os ricos aceitarem a vontade de Deus como a sua própria, então usarão suas posses para suprir as necessidades dos semelhantes (Tg 2.15,16) em vez de viver em luxurias e deleites (Tg 5.5; cf.Tg4.3:6)

O não pagamento dos salários devidos
O principal pecado desses ricos opressores era, segundo a denúncia clara do apóstolo Tiago, o não pagamento dos salários devidos. Tiago afirma que os trabalhadores que ceifavam nas terras desses ricos, na hora de serem pagos pelos seus trabalhos, em vez de receberem o salário combinado, tinham o seu pagamento distorcido, reduzido, diminuído (Tg 5.4). E mais: além de cometerem o pecado de não pagarem o salário devido, esses ricos estavam cometendo indiretamente assassinato, conforme a denúncia contundente de Tiago, que afirma que o não pagamento desses ricos aos pobres trabalhadores lançara estes em uma situação de miséria e morte. Diz o apóstolo: “Condenastes e matastes o justo; ele não vos resistiu (Tg 5.6). Como resultado desta atitude, Deus resistirá a esses ricos criminosos (Tg 4.6); seu juízo virá sobre eles (Tg 5.1).
Eis o centro da denúncia de Tiago no capítulo 5: a prática desses ricos maus de “acumular fortuna pessoal deixando de pagar seus empregados (v.4) é a base da acusação específica de Tiago quando menciona ‘matar o justo’ (v.6), porque tirar o pão de um semelhante é cometer assassinato; privar um empregado do salário é derramar seu sangue”.7 Sem o seu salário, esses pobres trabalhadores, que dependiam exclusivamente desses salários para sobreviver, não poderiam viver por muito tempo — definhariam até a morte.

O significado do termo “justo” do versículo 6
Um ponto importante a ser frisado aqui é o uso que Tiago faz do termo “justo” no versículo 6, quando afirma “Condenastes e matastes o justo; ele não vos resistiu”. A ideia clara do uso desse termo nessa passagem para se referir a esses pobres trabalhadores oprimidos é que o apóstolo quer destacar a seus leitores o fato de que eles não eram homens maus sofrendo alguma represália dos seus chefes ricos pela sua maldade. Não. Eles eram homens inocentes.
Tiago não está aqui atribuindo alguma bondade inata aos pobres pelo simples fato de serem pobres. Ele estava, sim, preocupado em enfatizar o fato de que aqueles homens não mereciam o que seus empregadores estavam fazendo com eles. Ele estava dizendo que aqueles pobres empregados haviam trabalhado honestamente, ceifando as terras de seus senhores, mas receberam em troca um salário aquém do combinado e de suas necessidades, quando os seus empregadores tinham condições de pagar o salário prometido, que garantia a subsistência daqueles pobres homens.
Portanto, o referido versículo não pode ser usado como argumento para sustentar a Teologia da Libertação, que ensina o equívoco de que os pobres são justos diante de Deus pelo simples fato de serem pobres, o que não encontra base alguma nas Sagradas Escrituras. Como afirma uma antiga e precisa regra básica de hermenêutica bíblica, texto sem olhar o contexto é pretexto.

“Paguem-lhe o seu salário”
Desde o Antigo Testamento, ainda na Lei de Moisés, encontramos a proibição divina de o empregador oprimir o empregado. Ela se encontra em Deuteronômio 24.14, mesma passagem que assevera que o trabalhador tinha direito ao salário devido e este não poderia ser de forma alguma atrasado. Afirma expressamente o próprio Deus, conforme registrado por Moisés: “No seu dia, lhe darás o seu salário, e o sol se não porá sobre isso; porquanto pobre é, e sua alma se atém a isso; para que não clame contra ti ao Senhor, e haja em ti pecado”. Na Nova Versão Internacional, a mesma passagem é assim vertida para o português: “Paguem-lhe o seu salário diariamente, antes do pôr do sol, pois ele é necessitado e depende disso. Se não, ele poderá clamar ao Senhor contra você, e você será culpado de pecado”.8
Ao desrespeitarem esse mandamento divino, esses ricos opressores estavam acumulando culpa sobre as suas cabeças, preparando-se para o juízo divino. Seu enriquecimento era fraudulento, o que já era frisado no capítulo 2 da Epístola de Tiago, quando o apóstolo afirma: “Mas vós desonrastes o pobre. Porventura, não vos oprimem os ricos e não vos arrastam aos tribunais?” (Tg 2.6). Isto é, os ricos opressores chegaram às raias dos tribunais, devido a seu crime, mas saíram vencedores. Essa é a razão pela qual Tiago afirma no capítulo 5, versículo 6, que o inocente pobre “não vos resistiu”, isto é, não resistiram aos ricos, mas foram condenados.

Como frisa o teólogo A. E Harper, essa expressão “não vos resistiu” refere-se, provavelmente, ao fato de que “o pobre não tinha uma defesa legal adequada”, de maneira que, “nos tribunais, os ricos influentes têm condenado e devastado’ [condenado e matado] o pobre que não tem condições de pagar o salário de um advogado ou o suborno para o juiz”. Conclui Harper: “O desamparo da vítima somente aumenta a culpa do opressor. Quando o desejo por riqueza se torna tão intenso ao ponto de tirar a vida de outra pessoa, a ganância tornou-se assassina”.9

Deus ouve o clamor dos que sofrem injustiças
Por fim, um dos ensinos importantes desse texto que abre o capítulo 5 de Tiago é que Deus está atento ao clamor dos que sofrem injustiças na terra. Deus não está alheio às injustiças que acontecem e, conforme assevera o apóstolo, aqueles que praticam maldades contra inocentes, que oprimem os outros, que promovem injustiças, receberão a sua paga inexoravelmente (Tg 5.1), ou ainda aqui na terra ou na eternidade se não se arrependerem.
Outra coisa que aprendemos é que, assim como Tiago se colocou como uma voz contra esses opressores, uma voz em favor daqueles inocentes oprimidos, o cristão deve também erguer sua voz contra as injustiças nesse mundo e a favor das vítimas inocentes.
E se você está sofrendo alguma injustiça na sua vida, lembre-se: Deus não está blindado em um canto do Universo, surdo e cego, sem atentar para a sua causa. Não! Ele simpatiza com a sua causa. Ele não suporta a injustiça, e Ele sabe muito bem tudo o que você está passando. O Senhor dos Exércitos — isto é, aquEle que peleja por nós — está ouvindo o seu clamor (Tg 5.4b).

Bibliografia utilizada neste capítulo
ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (editores). Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995·
HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento — Atos a Apocalipse — Edição Completa. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
RICHARDS, Lawrence O., Comentário Devocional da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

Alexandre Coelho e Silas Daniel




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