Por que Deus assim fez, só ele mesmo sabe. Ele declarou, em mais de um passo, que não escolheu esta gente porque fosse a mais numerosa da terra nem mesmo a melhor, mas porque quis. Era a sua promessa feita a Abraão, e quem pode contestar os modos e métodos da ação divina na História? Escolheu este povo, deu-lhe leis e mandamentos, estruturou-o em nação, e já se foram mais de 3 milênios e continua de pé, cada dia mais firme, tudo quanto Deus ordenou no Sinai. A existência dos israelitas no mundo é a mais cabal prova de que Deus elegeu para si este povo, e, apesar de toda a infidelidade do mesmo, Deus continua a conservá-lo.
A razão por que Deus elegeu esta raça, quando poderia ter escolhido outra, mais culta, não é de nossa apreciação. Ele tinha de escolher, e escolheu. Deus não é um Deus solitário, escondido nos refolhos do universo. Ele é um Deus que se revela, e tanto o mundo como os hebreus são elementos desta revelação. Deus só pode ser conhecido através dos atos praticados por seres racionais, e é por meio deles que a sua natureza e propósitos são conhecidos. A natureza, como tal, não pode revelar a Deus na sua natureza amorável; só o homem pode. Então escolheu os israelitas para esta tarefa.
A história desta gente é muito ingrata. Pouco depois de serem introduzidos na terra que Deus lhes destinara, rebelaram-se, e pediram a Samuel que lhes desse um rei, à semelhança das nações, ao redor, desprezando, assim, o Rei invisível, mas patente que eles tinham. Dali até hoje, a história desta gente é um rosário de rebeliões, e foi por esta causa que a nação foi destroçada e o povo levado para Babilônia e mais tarde para os quatro ventos da terra.
Deus tinha um plano, ao eleger esta gente como sua gente, seu povo. Ele teria de dar ao mundo o Messias, o que iria resolver o problema do pecado na terra, e para tal realização carecia de um povo. Este povo seria oráculo, o meio de preparação para a (vinda do desejado dos povos). Deus assim planejou e assim executou. Todos os profetas da antiga dispensação afinam por este diapasão. Os profetas antes de Daniel e depois dele, todos a uma, afirmam o plano e propósito de Deus. Poderia parecer, pelo fato de o povo ter sido levado cativo para uma terra estranha, para um povo cuja língua ignorava, que tudo estava acabado. Nada disso. Os planos de Deus não são para o tempo, mas para a eternidade. Os que testemunharam os acontecimentos de Jerusalém nos dias de Nabucodonozor e seus generais deveriam ter concluído que tudo estava acabado. O templo custoso e rico tinha sido arrasado, e de tudo que antes havia constituído uma nação próspera e poderosa só restavam ruínas. Mas o que aconteceu foi apenas uma lição a ser ensinada aos hebreus e a quem queira aprendê-la. O plano divino continuava de pé para o tempo e para a eternidade.
Então, parece que temos nestas palavras uma razão por que Daniel escreveu o seu livro. Apesar de estar numa terra estranha como cativo, a chama da fé que revelou por mais de uma vez é patente nesta obra. Aprouve a Deus levar este povo a Babilônia para que os babilônios soubessem que além de Marduque havia outro Deus. Temos até a impressão de que nunca antes nem depois povo pagão algum teve oportunidade de ouvir que só Deus era Deus. Os decretos de Nabucodonozor (3:29), Dario (6:25) e outros, mandados a todos os povos da terra sob o domínio daquela nação, testificam que só o Deus de Daniel era Deus a ser adorado. Deus foi muito louvado e engrandecido por intermédio do seu servo Daniel.
O livro de Daniel pode ser comparado ao Apocalipse. Só aquele rei ata os fatos dos últimos dias ainda por acontecer, com datas marcadas, como o capítulo 9:24-27, em que a vinda do Messias e a sua morte são retratadas, e depois a volta de Jesus ao mundo, com o arrebatamento da Igreja. Dias e anos são contados de um modo que nos maravilha. Se nos faltasse o livro de Daniel, não teríamos no Velho Testamento outro em que os algarismos são oferecidos com tal precisão como se o sol do dia já estivesse raiando. As 70 semanas do Messias, desde aquela revelação até o segundo advento, são qualquer coisa que nos assombra. Igualmente, os últimos versos do capítulo 12, em que até os dias do milênio são contados, mas de modo enigmático.
Autor: Antônio Neves de Mesquita
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